‘Dilma não é líder, é reflexo de um líder’, diz FHC

08/02/2010 às 17:15 | Publicado em Política | Deixe um comentário
Carolina Freitas

Um dia após ter provocado reação dos petistas com artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo em que criticava a estratégia que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adota para as eleições deste ano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou hoje ao ataque, colocando em xeque a capacidade de liderança da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão presidencial. “Ela não é líder. É reflexo de um líder”, disse, antes de participar da inauguração da Biblioteca de São Paulo, espaço estadual que será inaugurado na tarde de hoje pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Indagado se considerava Lula um líder, FHC riu e respondeu: “Claro que sim, eu não sou bobo.”

Na entrevista que concedeu antes do início da cerimônia de inauguração da Biblioteca de São Paulo, situada no Parque da Juventude, Zona Norte da Cidade, Fernando Henrique fez também questão de comparar o currículo de Serra, pré-candidato tucano à sucessão presidencial deste ano, com o de Dilma Rousseff. “A Dilma ainda não teve possibilidade de mostrar liderança. Serra inspira confiança e tem liderança, já demonstrada no Ministério da Saúde, na Prefeitura de São Paulo e no governo do Estado.”

Apesar da clara defesa de Serra, o ex-presidente afirmou que o governador paulista deve manter a discrição sobre sua provável candidatura ao Palácio do Planalto. Questionado se Serra deveria mudar de atitude e falar sobre o pleito deste ano, FHC respondeu: “O PSDB tem de se posicionar. Tem candidato. (Mas) O governador tem de esperar um pouco mais.” O tucano esquivou-se, também, de definir uma data para o anúncio da eventual candidatura Serra.

O ex-presidente tucano foi evasivo também ao falar sobre o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). O mineiro postulava a vaga de candidato do PSDB nessas eleições presidenciais, mas desistiu da empreitada em dezembro. “Aécio está se dedicando a Minas Gerais. Seria deselegante dizer o que ele tem de fazer.”

Fernando Henrique voltou a reiterar pontos do artigo publicado ontem no jornal O Estado e disse que o governo Lula não promoveu mudanças com relação à sua administração. “Todos achavam que Lula mudaria tudo. Não mudou, seguiu adiante no que eu tinha feito. Eu achei bom”, ironizou. E continuou: “Eleição é futuro. Se (o PT) quiser, a gente compara, desde que seja dentro de um contexto, não há o que temer.”

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http://www.istoe.com.br/noticias/data/48811_DILMA+NAO+E+LIDER+E+REFLEXO+DE+UM+LIDER+DIZ+FHC/1

Sem medo do passado

08/02/2010 às 15:04 | Publicado em Política | Deixe um comentário
Fernando Henrique Cardoso

O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas estão o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse: “O Estado sou eu.” Lula dirá: “O Brasil sou eu!” Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.

Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?

A estratégia do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês…). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo? Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo o que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.

Na campanha haverá um mote – o governo do PSDB foi “neoliberal” – e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora, os dados… O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da Lei de Responsabilidade Fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobrás, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal. Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões, e junto com a Caixa Econômica, libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado. Esqueceu-se dos investimentos do Programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao País. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no País.

Esqueceu-se de que o País pagou um custo alto por anos de “bravata” do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI – com aval de Lula, diga-se – para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo o que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.

Os exemplos são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto “neoliberalismo” peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobrás, citado por Adriano Pires no Brasil Econômico de 13/1: “Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobrás produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela.”

O outro alvo da distorção petista se refere à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002 houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.

Por fim, os programas de transferência direta de renda (hoje Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram num município (Campinas) e no Distrito Federal, estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outros 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando numa só bolsa os programas anteriores.

É mentira, portanto, dizer que o PSDB “não olhou para o social”. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel para a realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa Toda Criança na Escola trouxe para o ensino fundamental quase 100% das crianças de 7 a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996 eram apenas 300 mil).

Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100207/not_imp507564,0.php

Para juristas, Lula já faz campanha, mas é difícil punir

08/02/2010 às 14:13 | Publicado em Política | Deixe um comentário

Promoção de Dilma Roussef por parte do presidente tem sido exagerada; campanha começa em 6 de julho

Luciana Nunes Leal, da Agência Estado

Lula apoiou Dilma como sua candidata desde o início das especulações sobre as eleições

RIO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito piada com a situação, a oposição não acha a menor graça, mas juristas ouvidos pelo Estado são praticamente unânimes na avaliação de que o petista exagera na promoção de sua candidata, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A maioria reconhece, porém, que é difícil a fundamentação jurídica de antecipação da campanha eleitoral e aposta em uma tendência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de continuar a considerar improcedentes as denúncias encaminhadas até agora por PSDB, DEM e PPS contra Lula e Dilma. O tribunal argumenta que há falta de provas ou não é possível vincular os fatos denunciados à disputa eleitoral.
Para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso, o TSE deveria publicar imediatamente uma advertência sobre os limites da divulgação de candidaturas antes do início permitido da propaganda eleitoral, que neste ano será 6 de julho. Com isso, ficaria mais claro o que podem e o que não podem candidatos e não-candidatos, como o presidente da República. “O tribunal também tem função administrativa das eleições, de disciplinar. Não julga apenas. Poderia fazer uma advertência e, se não for cumprida, aplicar as punições”, sugere.

Ex-presidente do TSE e do STF, Velloso diz que o presidente da República deve “assumir posição de magistrado, ter um comportamento severo em relação à lei”. “Se o presidente faz discurso e menciona a candidatura da ministra Dilma, que todos sabem que será candidata, está havendo campanha antecipada. Como ficam os candidatos ao Parlamento, às Assembleias, aos governos dos Estados? É um mau exemplo”, diz.

Além da Lei Eleitoral (9.504/97), que pune com multa a propaganda antecipada, a Lei de Inelegibilidades (Lei Complementar 64, de 1990) trata de abuso do poder econômico e político, praticado por autoridades que buscam favorecer partidos ou candidatos aliados. As penas são proibição de candidatura nos três anos seguintes e cassação do registro de candidatos beneficiados. No entanto, a legislação não cita casos concretos de abusos, deixando para a Justiça Eleitoral a análise de situações específicas denunciadas pelos adversários ou pelo Ministério Público Eleitoral.

Ex-presidente da Comissão de Direito Político Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, Luciano Santos vê campanha antecipada também na prática de outros pré-candidatos. Cita como exemplos os encontros do PV em torno da senadora Marina Silva e o fato de a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) fazer anúncios em outros Estados, quando já é sabido que o governador José Serra é o pré-candidato do PSDB à Presidência. Tanto o PV quanto o governo paulista dizem que não há propaganda em suas ações e tudo está dentro dos limites legais.

O destoante, na avaliação de Santos, é a participação direta de Lula, que não é candidato, em defesa de Dilma. “Em tese, os pré-candidatos teriam paridade de armas. Mas o presidente extrapola os limites de administrador quando diz que tem candidata, que ela vai ganhar a eleição. Ele tem direito de ter candidata, mas não de usar os meios da Presidência em favor dela”, afirma Santos, em referência ao fato de que Lula tem falado da sucessão e da candidatura de Dilma, embora sem citar o nome da ministra, em discursos oficiais, durante compromissos da Presidência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,para-juristas-lula-ja-faz-campanha-mas-e-dificil-punir,507617,0.htm

Ala oposicionista do PMDB avisa que insistirá em reverter quadro pró-PT

08/02/2010 às 13:50 | Publicado em Política | Deixe um comentário
Julia Duailibi e Evandro Fadel

Com a recondução do deputado Michel Temer (SP) à presidência do PMDB, e o consequente fortalecimento da tese a favor da aliança com o PT na eleição presidencial, a ala peemedebista que faz oposição ao governo federal começa a articular a reversão do quadro – hoje favorável à coligação com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A política de alianças tem ainda de ser referendada na convenção nacional do PMDB em junho, e é com esse tempo que os oposicionistas pretendem jogar. “A eventual disputa será na convenção. Ainda é possível mudanças”, disse o ex-governador Orestes Quércia, que articula reunião com os governadores Roberto Requião (PR) e Luiz Henrique (SC) e os senadores Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE). Há oposicionistas favoráveis à candidatura própria e outros que defendem coligação com o PSDB.

“Como dizia o Tancredo Neves, voto secreto dá uma vontade de trair”, disse Simon, ao comentar que a tese de candidatura própria pode ser beneficiada com votos de governistas. “Até a convenção, Requião continua pré-candidato a presidente.”
Na avaliação de setores do PMDB, diretórios da Bahia e de Minas podem ainda virar o jogo e se alinhar aos que defendem a candidatura de José Serra.
O presidente do diretório do PMDB do Paraná, Waldyr Pugliesi, um dos que assinaram a ação judicial que pretendia a suspensão da convenção de sábado que reelegeu Temer, disse que é preciso mobilizar os que querem a candidatura própria. “Aqueles que a defendem têm de trabalhar para, em junho, comparecer à convenção nacional e colocar uma ou duas pré-candidaturas para disputar.”
Levantamento da ala oposicionista mostra que 24 diretórios estaduais querem a candidatura própria. Há, no entanto, ceticismo de que a proposta possa sair vitoriosa. Para o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, a reeleição de Temer mostra a “representatividade” dos militantes e do grupo que defende a aliança. “É um passo a mais nesse sentido.”

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100208/not_imp507876,0.php

Truculência em Belo Monte

08/02/2010 às 11:57 | Publicado em Política | Deixe um comentário

Um dos motivos que impedem o crescimento mais forte do país são os gargalos estruturais decorrentes da ineficiência de uma série de serviços públicos. Há excesso de estradas mal conservadas, portos assoreados, ferrovias inativas e aeroportos estrangulados. No setor elétrico, só a eclosão da crise econômica de 2008/2009 e a prodigalidade de São Pedro nos salvaram de um apagão de grande proporções.

Por entraves como esses, a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, plano que vem desde os anos 70, pode ser fundamental para atenuar alguns dos nossos problemas estruturais. Delicada, a obra exige, porém, redobrados cuidados ambientais. Mas o governo petista quer tocar o empreendimento usando o método Maçaranduba: com truculência máxima. Quem tiver argumentos contra a usina, que se cuide: a máquina do Estado, com toda a sua força, irá se voltar contra você!

Belo Monte poderá ser a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, atrás apenas de Itaipu e de Três Gargantas, na China. Será construída no município de Altamira, no oeste paraense, e terá capacidade para gerar o equivalente a 10% do consumo energético brasileiro, ou até 11,4 mil MW. Em um país que ainda vive à sombra de apagões e acaba de bater seu recorde de consumo de energia, a usina é uma iniciativa esperada e necessária, desde que feita sem atropelos.

O governo Lula comemorou quando, na semana passada, a usina recebeu do Ibama a licença ambiental prévia, após quase dez anos de discussões. As exigências ambientais são significativas: para conseguir vencer a licitação de Belo Monte, os empreendedores precisarão respeitar uma lista de 40 condicionantes, que irão aumentar o custo da obra em mais R$ 1,5 bilhão. O investimento total pode chegar a R$ 30 bilhões, embora o governo fale na metade disso (margens de variação desta monta só servem para uma coisa: abrir espaço para todo o tipo de sobrepreço e superfaturamento).

Belo Monte é o maior empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Como já é mais que sabido, muito mais do que um plano para desenvolver o país o PAC jamais passou de um nome-fantasia, agora usado como peça de campanha da candidata-ministra Dilma Rousseff na briga pela presidência da República. Todo o planejamento futuro do setor elétrico nacional está baseado na construção da usina; sem ela, rui.

Exatamente pelo seu caráter político-eleitoral e estruturante, o governo Lula resolveu jogar pesado e escalou a Advocacia-Geral da União (AGU) como uma espécie de cão de guarda de Belo Monte. Sem margem para sutilezas, a la Maçaranduba. A AGU ameaçou processar procuradores da República do estado do Pará que protocolarem ações contra a obra. Não tardou para que o Ministério Público reagisse, afirmando o óbvio: seus subordinados obedecem a um norte claro, a saber, o cumprimento da lei. Mas o PT não está disposto a respeitar estes “detalhes”. Leis? Às favas com elas! Belo Monte abriu, assim, uma guerra, e das boas.

Ao atacar o “abuso de prerrogativa dos procuradores”, que teriam intenção de “tumultuar” o processo, o governo Lula tenta passar a imagem de que apenas luta pelo crescimento do país. Curiosa a história e as voltas que ela dá. Onde estavam os petistas quando, ao longo de toda a gestão Fernando Henrique, procuradores declaradamente simpáticos ao partido dedicaram-se diuturnamente a azucrinar o governo e travar qualquer tipo de medida? Insuflando “seus” procuradores, claro.

Há muito em jogo em Belo Monte, empreendimento cuja seriedade não admite simplificações. O Ministério Público aponta vícios no processo de concessão da licença, como a realização de audiências públicas meramente formais. Também alega que o Ibama aceitou informações incompletas de interessados no empreendimento. No ano passado, o licenciamento ambiental da usina já provocara a queda de dois diretores do Ibama, sob a alegação oficial de que eles estavam “dificultando” a concessão.

Há centenas de aspectos técnicos e ambientais em jogo. Na edição de sexta-feira de O Estado de S. Paulo, Washington Novaes cita uma lista tão longa quanto respeitável deles. Aqui vão alguns, mas a leitura do texto original é muito mais rica: há amplas possibilidades de gerar mais energia com o mesmo parque atual; o custo da infraestrutura urbana que terá de ser feita para acolher quem chegar à região atraído pela obra é gigantesco; uma monumental escavação, maior do que as obras no Canal do Panamá, terá de ser feita no leito do rio.

É de se prever que, na hora apropriada, as tais “condicionantes” impostas nesta fase pelo Ibama parem no lixo. Não será nenhuma novidade neste governo. Foi assim com a transposição do rio São Francisco: 31 condicionantes daquela obra não foram cumpridas, mas, mesmo assim, o empreendimento ganhou licença de instalação e foi tocado em frente.

“E não eram exigências simples: referiam-se à impropriedade para a agricultura da maior parte dos solos aos quais se destinaria à água; diziam que toda a água iria para açudes onde as perdas por evaporação podem chegar a 75%; afirmavam que quase todo o restante se destinaria ao abastecimento de cidades onde as perdas de água canalizada estão na casa dos 40%; que a transposição não beneficiaria as populações mais carentes, que vivem em pequenas comunidades isoladas”, escreve Novaes. Ah, por último, mas não menos importante: o TCU também identificara um sobrepreçozinho de R$ 460 milhões na transposiçao.

A rotina política destes tempos de Lula mostra que a lei não costuma ser impedimento para o governo tocar suas ações, principalmente se for para obter ganhos eleitorais. Vale tudo para fazer o PAC andar, inclusive maquiar balanços de execução descaradamente, colocando recursos que ainda serão emprestados como dinheiro que já foi investido. É o cúmulo da contabilidade criativa que tanto notabilizou esta gestão. Mandar executar obras que foram paralisadas pelo TCU por suspeita de desvio de recursos públicos, como já mostrado aqui, é fichinha.

A estratégia petista está mais que evidente: o governo e sua candidata-ministra querem transformar discussões complexas, em todas as áreas, em disputas obtusas entre quem está do “nosso lado”, no caso, o petista, e quem está com “eles”, ou seja, todos aqueles que não comungam do atropelamento às instituições que está em marcha no país. A ação da AGU em Belo Monte é apenas mais um exemplo dessa conduta reducionista e pesadona. Os eventuais abusos de procuradores deveriam ser enfrentados por meio da lei, e não pela ameaça e pelo tacão autoritário, pelo qual o petismo revelou-se um antigo apaixonado.

http://www.itv.org.br/itv2009/web/noticia.aspx?c=3235

Foco tem de ser biografia de candidatos, cobram tucanos

08/02/2010 às 10:48 | Publicado em Política | Deixe um comentário

Para integrantes do PSDB, artigo de FHC expõe o diagnóstico do partido sobre conjuntura política atual
Julia Duailibi, Lucas de Abreu Maia

Na esteira das declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem “eleições não se ganham com o retrovisor”, os tucanos reforçaram a estratégia de comparar a biografia da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com a do governador de São Paulo, José Serra. Para integrantes do PSDB, o artigo de FHC, publicado ontem no Estado, expõe o diagnóstico feito pela cúpula do partido sobre a conjuntura política atual.

“A ministra tem de esquecer essa história de comparação com governo Fernando Henrique. Seu desafio é mostrar que é melhor para o País. Vamos discutir o governador Serra e a ministra Dilma. A forma como um trabalhou publicamente a vida inteira, e a outra, que não fez nada e promove um festival de ações contr a lei”, disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Na avaliação do deputado Arnaldo Madeira (SP), o artigo é “um belo resumo da posição do PSDB”. “O tom da conversa é esse. Há hoje uma ideia clara de que há uma continuidade da política econômica. Os programas sociais foram mantidos e ampliados. É o que o partido vem dizendo internamente. Mas a campanha não será focada entre Fernando Henrique e Lula. Será para frente, para o que os candidatos irão fazer.”

No PSDB, há, no entanto, quem questione se a crítica do ex-presidente a Lula, ao dizer que o petista tem “impulsos toscos” e “enuncia inverdades”, não acaba dando munição ao governo. Para alguns tucanos, o partido cai na armadilha petista ao alimentar o bate-boca.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), repetiu o argumento do ex-presidente de que a atual gestão “pegou o governo complicado, mas por culpa do Lula” – uma referência ao temor no mercado financeiro de que o petista adotasse políticas econômicas mais à esquerda. O senador também chamou de “desonesta” a comparação entre o crescimento econômico do governo atual e o anterior. “Tem de olhar o crescimento comparado ao dos países vizinhos e concorrentes. Hoje, o Brasil cresce menos”, disse.

Para o senador José Agripino Maia (DEM-RN), o ex-presidente “coloca verdades insofismáveis” em seu artigo. “Lula procura convencer as pessoas de coisas cujo mérito não é dele”, afirmou. “Vamos dar a César o que é de César, é isso o que o Fernando Henrique está fazendo.”

Ao comentar o artigo de FHC, o presidente do PSDB de Minas, deputado Nárcio Rodrigues, disse que “o governo Lula não teria feito 10% do que fez se não fossem as bases plantadas por Fernando Henrique em seus oito anos”. Para Rodrigues, o discurso de comparação de Lula não fortalecerá a campanha de Dilma Rousseff. “O jogo com a Dilma é outro”, disse.
COLABOROU IVANA MOREIRA

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100208/not_imp507874,0.php

Dilma comanda reação petista a FHC e diz que insistirá em comparações

08/02/2010 às 10:17 | Publicado em Política | Deixe um comentário

Com Dutra e Padilha, ela responde a artigo no ‘Estado’ em que ex-presidente acusa Lula de ‘enunciar inverdades’

CRÍTICA – “Estratégia dos petistas seria uma tentativa de ganhar as eleições com o retrovisor”, diz FHC

BRASÍLIA
O governo saiu ontem em bloco para responder as críticas feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à estratégia do Palácio do Planalto para tentar vencer as eleições de outubro. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à corrida presidencial, reconheceu que o governo tucano deu contribuições ao País, mas indicou que não deixará de fazer comparações entre o que foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu antecessor. “Não estou desmerecendo ninguém, estou dizendo que nosso caminho é melhor”, disse.

Em artigo publicado ontem no Estado, Fernando Henrique afirmou que Lula, levado por “momentos de euforia”, está inventando inimigos e enunciando inverdades. O ex-presidente lamentou que o sucessor tenha se deixando contaminar por “impulsos tão toscos” e mostrou disposição para entrar no embate das realizações de cada governo, polarização defendida por Lula. “Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa.”

Para Dilma, o que o governo defende é uma comparação para a escolha de caminhos. “Essa é a forma de nós confrontarmos as possibilidades”, disse a ministra, pouco antes de participar de um evento do PT, em Brasília. Fernando Henrique afirmou em seu artigo que a estratégia adotada pelos petistas seria uma tentativa de ganhar as eleições “com o retrovisor”.

Dilma rebateu. “Comparar não é ficar olhando pelo retrovisor. Comparar é discutir que caminho vou seguir”, disse. “Sem sombra de dúvida, houve passos no governo anterior, agora, o que estou dizendo é que o nosso caminho é melhor.”

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também defendeu a política de comparações e disse que o PT está disposto a debater com os tucanos suas propostas para o futuro. “Assim que mostrarem o que querem fazer, nós vamos comparar com aquilo que queremos fazer daqui para frente.”

DADOS

O ex-presidente argumentou em seu artigo que o governo ignora dados e insiste em contar sua versão dos fatos para tentar “desconstruir o inimigo principal”, os tucanos. O empréstimo feito pelo País em 2002, no FMI, foi um dos exemplos citados por Fernando Henrique de custos enfrentados pelo País por anos de “bravatas” do PT que hoje são ignoradas pelos petistas.

Dilma tentou desmontar a argumentação. “O governo pediu US$ 14 bilhões porque só tinha US$ 16 bilhões de reservas e tinha atrelado sua dívida interna ao dólar”, disse. “Hoje, temos reservas de US$ 240 bilhões, essa a diferença.”

Segundo a ministra, a de cisão de atrelar a dívida ao dólar acabou tendo efeitos perversos. “Cada vez que havia uma desvalorização, a dívida das empresas, a dívida do governo se multiplicava na proporção da desvalorização”, disse. “Diante de cada crise o governo quebrava, ele era parte do problema.”

Para Dilma, o atual governo mudou o papel do Estado. “Na hora que a coisa ficou preta, quando acabou o crédito internacional e nenhum banco privado emprestava, foram os nossos bancos públicos que seguraram”, comentou. “Não vamos comparar desta vez que o governo brasileiro foi parte da solução?”

A tentativa de colar a imagem do governo com sinais de mudanças radicais também não faz sentido, disse. “O pessoal está um pouquinho atrasado, nem em Davos a gente recebe mais essa crítica.”

DUTRA

Citado no artigo de Fernando Henrique, o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, disse que quem não reconheceu os feitos do governo passado foi o candidato tucano ao Planalto em 2006, o ex-governador Geraldo Alckmin. “Quem escondeu os progressos do governo dele foi o Alckmin. Ele ficou envergonhado de defender o governo FHC”, provocou Dutra.

Em seu artigo, Fernando Henrique lembra que Dutra, que já presidiu a Petrobrás, reconheceu que votaria contra uma eventual proposta de volta ao monopólio do petróleo, tema defendido por muitos anos pelo PT. Dutra confirmou essa posição e disse também que já elogiou outra medida tomada pelo governo FHC, hoje alvo de críticas dos próprios tucanos. “Um dos grandes motivos para o crescimento da Petrobrás foi a agilidade que ela ganhou a partir do momento em que não teve mais de cumprir a 8666 (Lei de Licitações). Agora o TCU bombardeia esse decreto, que é do governo FHC, e a oposição fica do lado do TCU.”

TRECHOS

O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. (…) Por trás dessas bravatas estão o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse: “O Estado sou eu.” Lula dirá: “O Brasil sou eu!” Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.

Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo? Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo o que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.

Na campanha haverá um mote – o governo do PSDB foi “neoliberal” – e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa.

(Lula) Esqueceu-se de que o País pagou um custo alto por anos de “bravata” do PT e dele próprio.

É mentira dizer que o PSDB “não olhou para o social”. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área.

Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.

Colaborou Leonardo Goy

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100208/not_imp507871,0.php

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